Porque é que a terra não é como o sol e o ar?

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Eu sou o Francisco Mestre

com 80 anos de idade

Que vou dizer uma prosa que eu fiz…

Durante 45 anos tive com a boca calada, que não podia abrir a boca,

Entretive-me a fazer a minha propaganda cá comigo mesmo,

E punha-as cá numa caixinha…

Eu não sei ler nem escrever, sou analfabeto.

Agora, do 25 de Abril para cá tenho tido a liberdade de as dizer.

Portanto vou dizer assim:

«Eu pergunto a qualquer actor que me saiba explicar

Porque é que a terra não é como é o sol e o ar

(…) Todos nascemos, com 9 meses de ventre,

E despois do tempo corrente que diferença fazemos?

Os que trabalhamos não temos, e quem não trabalha tem valor,

Um é escravo outro é senhor sendo tudo a mesma vontade,

Mas porquê esta desigualdade, eu pergunto a qualquer actor?

(…)

Lá por ter muita valia tem que a existência acabar

Quando o sangue paralisar e deixa o coração de bater,

E que diferença é que há no morrer, que me saiba explicar.

O rico pra fazer figura depois de morto vai pr’à montra,

Mas tá gozando a mesma conta dos que estão baixo à sepultura,

Isto é uma verdade pura, como a verdade pura é,

(…)

Pr’a todos rompeu a Aurora

O efeito que produz tudo o que é vivo adora

É de todos não se ignora que assim como o respirar

Tudo a sua luz gozar desde o princípio até ao fim

E porque não é tudo assim, como é o sol e o ar?»

Arquivos da RDP

Signes des temps | Sinais do tempo

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Des noix abondantes, de grosses châtaignes, le départ précoce et massif des canards et des oies sauvages vers le Sud peuvent préssager un mois de décembre rigoureux; de même, la croyance populaire veut que s’il gèle entre le 10 et le 13 novembre, l’hiver sera rude. C’est assez exact, en effet. Si les mouettes s’enfoncent nombreuses et loin à l’intérieur des terres et qu’elles apparaissent dans les villes au début octobre, novembre se montrera tempetueux et décembre risque d’être froid. Si les corbeaux, les corneilles et choucas pénètrent à l’intérieur des villes – ce qui est rare -, les gelées seront fortes.

Nozes abundantes, castanhas volumosas, a debandada precoce e massiva dos patos e gansos selvagens para o sul podem pressagiar um mês de Dezembro rigoroso; igualmente, a crença popular diz que, se gelar entre os dias 10 e 13 de Novembro, o inverno será rigoroso. Isto é bastante exacto, na verdade. Se as gaivotas se dispersarem pelo interior e arribarem às cidades no início de Outubro, Novembro será tempestuoso e Dezembro provavelmente será frio. Se os corvos e as gralhas penetrarem no interior das cidades – o que é raro – as geadas serão severas.

in «La météréologie?» Editions Gérard & Cº, Verviers (Belgique)

Collection Marabout Flash; 1967

Fábula arménia

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Era uma vez um lobo que chacinara muitas ovelhas e levara muitas pessoas às lágrimas. Um dia, por alguma razão desconhecida, ele sentiu um peso na consciência e começou a arrepender-se da vida que levara até então. Por isso, decidiu reformar-se e não matar mais ovelhas.

Quando tomou essa decisão, pediu a um padre para lhe celebrar uma missa de acção de graças. O padre começou a missa, e o lobo ficou na igreja a chorar e a rezar. O padre continuou e continuou. Uma vez que o lobo assassinara muitas ovelhas do próprio padre, ele rezou sinceramente pela reforma do lobo. Subitamente, o lobo olhou pela janela e viu um rebanho de ovelhas a ser conduzido para casa. Começou a ficar inquieto, mas a oração do padre prosseguiu, como se nunca fosse acabar. Por fim, o lobo não conseguiu conter-se mais e gritou:

«Acabe lá com isso padre! Ou então as ovelhas vão-se todas embora e eu fico sem jantar!»

Essentuki Library | Biblioteca de Essentuki

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«When I was under the Bolsheviks last year, I did once considered the future. I was at Essentuki, in the North Caucasus. The Bolsheviks had requisitioned all the books in the place and taken them into the school there. I went to the Comissar and asked him to make me librarian. I had been schoolmaster since the revolution (…). Well, the Comissar didn’t quite know what a librarian was, but I explained to him. He was a simple man and began to be almost frightened on me when I told him that I had written books of my own. So he made me librarian and I put up a big notice on the door saying that this was the «ESSENTUKI SOVIET LIBRARY». My idea was to keep the books safe, without mixing them up, so that when the Bolsheviks went away, they could be given back to their owners. I arranged them nicely, and spent my time reading some of them. Then, one night the Cossacks came and drove the Bolsheviks out. I ran round to the school in spite of the firing and tore down the word “SOVIET”, for fear that the Cossacks came and destroyed everything, and so it read simply «ESSENTUKI LIBRARY». And next day I started to hand the books back to their owners. Not a soul had been to the library all the time, so no harm was done in breaking it up.»

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Quando estive sob o comando dos Bolchevistas no ano passado, considerei uma vez o futuro. Estava em Essentuki, no norte do Cáucaso. Os Bolchevistas haviam requisitado todos os livros do local e levaram-nos para a escola de lá. Fui ter com o Comissário e pedi-lhe que me nomeasse bibliotecário. Desde a revolução que eu era professor (…).
Bem, o Comissário não sabia ao certo o que era um bibliotecário, e eu expliquei-lhe. Como homem simples que era, quase ficou com medo de mim quando eu lhe disse que havia escrito os meus próprios livros. Então nomeou-me bibliotecário e eu coloquei um grande letreiro na porta dizendo que aquela era a « BIBLIOTECA SOVIETE DE ESSENTUKI». A minha ideia era manter os livros a salvo, sem os misturar, para que quando os Bolchevistas fossem embora, pudessem ser devolvidos a seus donos. Arrumei-os muito bem e passei o meu tempo lendo alguns exemplares. Então, certa noite, os Cossacos vieram e expulsaram os Bolchevistas. Corri para a escola apesar dos disparos e rasguei a palavra “SOVIETE”, por receio de que os Cossacos viessem e destruíssem tudo, e por isso agora dizia simplesmente «BIBLIOTECA DE ESSENTUKI». No dia seguinte comecei a devolver os livros aos seus donos. Nem uma alma tinha entrado na biblioteca o tempo todo, por isso não havia nenhum mal em desmantelá-la.»

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Lorsque j’étais sous les Bolcheviks l’année dernière, j’ai considéré une fois l’avenir. J’étais à Essentuki, dans le Caucase du Nord. Les Bolcheviks avaient réquisitionné tous les livres du village et les avaient emmenés à l’école là-bas. Je suis allé voir le Commissaire et lui ai demandé de me nommer bibliothécaire. J’étais instituteur depuis la révolution (…).
Bon, le Commissaire ne savait pas trop ce qu’était un bibliothécaire, mais je lui ai expliqué. C’était un homme simple et il a presque eu peur de moi quand je lui ai dit que j’avais écrit mes propres livres. Alors il m’a nommé bibliothécaire et j’ai mis une grande affiche sur la porte disant que c’était la « BIBLIOTHÈQUE SOVIET D’ESSENTUKI ». Mon idée était de garder les livres en sécurité, sans les mélanger, afin que lorsque les Bolcheviks s’en iraient, ils puissent être rendus à leurs propriétaires. Je les ai bien rangés et j’ai passé mon temps à en lire quelques-uns. Puis, une nuit, les Cosaques sont venus et ont chassé les Bolcheviks. J’ai couru jusqu’à l’école malgré les coups de feu et j’ai arraché le mot « SOVIET », de peur que les Cosaques ne viennent tout détruire, et c’est ainsi qu’il disait simplement « BIBLIOTHÈQUE D’ESSENTUKI ». Et le lendemain, j’ai commencé à rendre les livres à leurs propriétaires. Pas une âme n’avait été à la bibliothèque pendant tout ce temps-là, donc il n’y avait aucun mal à la défaire.»

P. Ouspenski in Letters form Russia

Promenades dans les sphères célestes III

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1. «Quelqu’un ayant raconté, d’après les journaux, le dernier suplice que le roi du Portugal aurait fait subir à l’évèque de Coimbra, le Visionnaire répondit vivement que c’était une erreur et qu’il venait de parler de l’évêque avec le pape récemment décédé (…)»

2. «Outre les langues sacrées qu’il lui fallait savoir pour l’interpretation des saintes Ecritures, Swedenborg ne se souciait plus d’en apprendre d’autres depuis qu’il échangeait si facilement ses idées avec les anges et les ésprits.»

Ibidem

Des voyages dans le ciel austral II | Das viagens no céu austral II

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« Les Esprits de Jupiter ne nous estiment pas trop non plus. Quand je voulais leur dire que sur notre terre il y a des guerres, des pillages et des assaninats, ils se détournaient et refusaient d’écouter. Par une fréquentation de longue durée avec eux, je demerai convaincu qu’ils étaient plus probes que les Esprits de plusieurs autres terres. Leur abord est si doux et si suave qu’il est impossible de l’exprimer. Ils influaient principalement sur ma face et la rendaient gaie et riante. (…). Leurs faces sont aussi plus belles que les nôtres.»

«The Spirits of Jupiter don’t think highly of us either. When I wanted to tell them that in our land there are wars, looting and murder, they turned away and refused to listen. By long-term association with them, I am convinced that they are more trustworthy than the Spirits of many other lands. Their approach is so soft and gentle that it is impossible to express it. They mainly influenced my face and made her cheerful and laughing. (…). Their faces are also more beautiful than ours.»

«Os Espíritos de Júpiter também não têm uma opinião favorável a nosso respeito. Quando eu tentava dizer-lhes que na nossa terra existem guerras, saques e homicídios, eles afastavam-se e recusavam-se a ouvir. Frequentando-os amiúde, cheguei à conclusão de que são mais íntegros que os Espíritos de muitas outras terras. A sua abordagem é tão doce e suave que é impossível expressá-la. Exerciam influência sobre a minha face, tornando-a alegre e sorridente. (…). Os seus rostos também são mais belos que os nossos.»

Des voyages dans le ciel austral | Das viagens no céu austral

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«Du 23 janvier au 11 novembre, il explora six fois Mercure, vingt-troi fois Saturne, deux fois la lune. Il ne se contint pas dans ces limites. Vingt-quatre fois, dans cet espace de temps, il visita des terres situées dans le ciel austral».

M.Matter, E. de Swebenberg ses ecrits, sa vie et sa doctrine, Paris 1863

« De 23 de Janeiro a 11 de Novembro, explorou por seis vezes Mercúrio, vinte e três vezes Saturno, duas vezes a lua. Não se conteve nestes limites. Por vinte e quatro vezes, neste espaço de tempo, visitou terras situadas no céu austral».

La multiplication démoniaque | A multiplicação endemoniada

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Médite en des lieux isolés
qui inspirent la peur.
Quand apparaîtront les prodiges
des dieux et des démons,
sépare corps et conscience.
Même si la terreur s’empare de toi,
ne t’enfuis pas.
reste immobile comme le chambranle
d’une porte.
Machik Labdrön

Un apprenti maldjorpa avait reçu comme instruction de son maître de passer plusieurs nuits dans un charnier pour y pratiquer le chöd de Mahamoudra, transmis au Tibet par le grand yogini Machik Labdrön. Ce rituel consiste à invoquer les dieux et les démons avec un damarou, un double tambourin fait de deux calottes crâniennes, et d’une flûte taillée dans un fémur. L’adepte s’offre alors en festin aux être surnaturels afin de trancher son attachement à l’ego et de voir la véritable nature de l’esprit.
Quand le disciple se rendit pour la troisième fois dans ce lieu particulièrement sinistre, c’était une nuit de pleine lune sans nuage. Il pouvait voir distinctement les ossements et les lambeaux de cadavres pieusement découpés pour servir d’offrande aux vautours. C’est alors qu’au détour d’un rocher il aperçut dans la pénombre deux yeux immense qui le regardaient fixement. Il avait l’impression d’être déjà dans la gueule gigantesque d’un démon, au bord d’un gouffre sans fond. Oubliant la pratique du chöd, renonçant à offrir son corps en pâture au monstre, il paniqua et opta pour un rituel d’exorcisme. Il claqua des mains et cria : «Phet !» Mais les yeux démoniaques n’avaient pas disparu. Prononçant un puissant mantra, il déroula le chapelet qu’il avait au bras pour frapper l’apparition, à grand renfort de «Phèt, phèt, phèt !».
Mais plus il tapait, plus les yeux se démultipliaient autour de lui. Il se retrouva bientôt encerclé par des dizaines de regards fantomatiques.
L’exorcisme était sans effet. Le démon était trop puissant, il s’était démultiplié, à moins que d’autres aient accouru pour la curée, car la peur les attire et les rends plus forts. Désespéré, tremblotant comme une feuille de bouleau dans la brise, le yogi néophyte cessa de frapper et de s’égosiller. Il essuya d’un revers de manche la bave qui lui coulait sur le menton. C’est alors qu’il eut sur les lèvres un goût de yoghourt. Il réalisa soudain qu’il avait frappé deux bols de lait caillé laissés là en offrande et qu’il en avait éclaboussé les rochers alentour. Il n’était encerclé que par des taches laiteuses qui étincelaient sou le regard hilaire de la lune.
Le novice fut secoué d’un fou rire et il comprit combien il était loin de saisir la nature véritable de l’esprit puisqu’il lui était si difficile de percevoir la réalité ordinaire.

L’origine de tous les démons se trouve
dans l’esprit même.
Quand la conscience s’attache à la réalité d’un objet extérieur,
elle est sous l’emprise d’un démon.
Tant qu’il y a un moi, il y a des démons.
S’il n’y a plus de moi, il n’y a plus d’objet,
Il n’y a plus ni peur ni attachement
A trancher.


Machik Labdrön

in: Contes des sages du Tibet
Pascal Fauliot
Ed du Seuil

Medita em sítios isolados
tais que te inspirem o medo
Quando surgirem os prodígios
dos deuses e dos demónios
separa corpo e consciência.
Ainda que o terror se apodere de ti
não te escondas.
Permanece imóvel como a moldura
de uma porta.
Machik Labdrön

Um aprendiz maldjorpa recebera a instrução do seu mestre de passar várias noites num ossário para ali praticar o chöd Mahamoudra, levado para o Tibete pelo grande iogui Machik Labdrön. Este ritual consiste em invocar os deuses e os demónios com um damaru, um tambor duplo feito de duas calotas cranianas, e uma flauta esculpida num fémur. O adepto oferece-se então num festim aos seres sobrenaturais no intuito de se desapegar do ego e ver a verdadeira natureza do espírito.
Quando o discípulo se dirigiu pela terceira vez a esse local particularmente sinistro, era noite de lua cheia, sem nuvens. O aprendiz podia ver distintivamente as ossadas e os restos de dilaceramentos de cadáveres piedosamente decepados para servir como oferenda aos abutres. Foi então que ao contornar um rochedo vislumbrou na penumbra dois olhos imensos que o fitavam fixamente. Teve a sensação de estar já dentro da goela gigantesca de um demónio, à beira de um abismo sem fundo. Esquecendo-se da prática do chöd, recusando-se a servir de pasto ao monstro, entrou em pânico e optou antes por um ritual de exorcismo. Bateu as mãos e gritou: «Fèt!». Mas os olhos demoníacos não desapareceram. Pronunciando um poderoso Mantra, correu as contas do rosário que trazia no braço batendo na aparição com grandes entoações de «Fèt, fèt, fèt!». Mas quanto mais batia, mais os olhos se multiplicavam ao seu redor. Daí a pouco viu-se cercado por dezenas de olhares fantasmagóricos.
O exorcismo não surtira efeito. O demónio era demasiado poderoso, tinha-se multiplicado, a menos que outros tivessem acorrido para as miudezas, pois o medo atrai-os e torna-os mais fortes. Desesperado, tremendo como uma folha de salgueiro na brisa, o iogui neófito parou de bater e vociferar. Com o interior da manga limpou a baba que escorria sobre o queixo. Foi então que provou um sabor a iogurte nos lábios. Apercebeu-se subitamente que tinha quebrado duas tigelas de leite coalhado que alguém ali deixara como oferenda e que havia salpicos nos rochedos em redor. Estava cercado tão-somente de manchas leitosas que cintilavam sob o olhar galhofeiro da lua.
O noviço foi tomado por um riso delirante e compreendeu o quanto estava longe de abarcar
a verdadeira natureza do espírito uma vez que lhe era tão difícil ver a realidade das coisas vulgares.

A origem de todos os demónios
encontra-se no próprio espírito.
Quando a consciência se agarra
à realidade de um objecto exterior,
fica à mercê de um demónio.
Enquanto houver um eu, haverá demónios. 
Se não houver um eu, deixa de haver objecto,
deixa de existir medo bem como apego a cortar.

3 koan by Timothy Leary | 3 koan por Timothy Leary

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1.«Two monks were walking near a brook. They met a girl unable to cross. The first monk picks the girl up and carries her over. They continued their walk in silence. That evening the second monk finally turned to his companion and burst out: – You know we are forbidden to even look at women far less touch one. Why did you do that? The first monk replied: – I set her down three hours ago, are you still carrying her?»

2.«A man dreamed he was a butterfly. He woke up, he said: – Now, I do not know whether I’m a man who dreams he is a butterfly, or a butterfly who dreams he is a man.»

3.«A man travelling across a field encountered a tiger. He fled, the tiger after him. Coming to a precipice he caught hold of the root of a wild vine and swung himself down into the edge. The tiger sniffed at him from above. Trembling, the man looked down to where, far below, another tiger was waiting to eat him. Only the vine sustained him. Two mice, one with and one black, little by little, started to gnaw away the vine. The man saw a luscious strawberry near him. Grasping the vine with one hand, he plucked the strawberry with the other. How sweet it tasted!» »
1.« Dois monges caminhavam perto de um riacho. Encontraram uma mulher impossibilitada de o atravessar. O primeiro monge agarra na mulher e leva-a para a outra margem. Prosseguiram o caminho em silêncio. Naquela noite, o segundo monge finalmente voltou-se para o companheiro e indagou: – Sabes que não podemos olhar para as mulheres quanto mais tocar-lhes. Porque o fizeste? Ao que o primeiro monge retorquiu: – Eu pousei-a há três horas atrás, e tu ainda a trazes às costas?

2. «Um homem sonhou que era uma borboleta. Acordou, e disse: – Como saber agora se sou uma pessoa que sonha ser uma borboleta, ou uma borboleta que sonha ser uma pessoa?»

3.«Um homem que viajava pelo campo encontrou um tigre. Desatou a fugir, o tigre foi atrás dele. Chegando a um precipício, agarrou-se à raiz de uma videira selvagem e lançou-se no vazio. O tigre farejava-o de cima. A tremer, o homem olhou lá para baixo onde outro tigre esperava para o comer. Seguro apenas pela videira. Dois ratos, um branco e um preto, pouco a pouco, começaram a roer a videira. O homem viu um morango delicioso ali perto. Agarrando-se à videira só com uma mão, apanhou o morango com a outra. Quão doce lhe pareceu!»

«Jadis, une nuit, […] je fus un papillon voltigeant content de son sort. Puis je m’éveillai, étant Tchoang-Tseu. Mais suis-je bien le philosope Tchouang-Tseu qui se souvient d’avoir rêvé qu’il fut papillon ou suis-je un papillon qui rêve maintenant qu’il est le philosophe Tchoang-Tseu?»

L’apologue de Tchoang-Tseu (Nan-Hoa-Tchenn-King, II,j.) in Roger Caillois, l’incertitude qui vient des rêves.