Eu sou o Francisco Mestre
com 80 anos de idade
Que vou dizer uma prosa que eu fiz…
Durante 45 anos tive com a boca calada, que não podia abrir a boca,
Entretive-me a fazer a minha propaganda cá comigo mesmo,
E punha-as cá numa caixinha…
Eu não sei ler nem escrever, sou analfabeto.
Agora, do 25 de Abril para cá tenho tido a liberdade de as dizer.
Portanto vou dizer assim:
«Eu pergunto a qualquer actor que me saiba explicar
Porque é que a terra não é como é o sol e o ar
(…) Todos nascemos, com 9 meses de ventre,
E despois do tempo corrente que diferença fazemos?
Os que trabalhamos não temos, e quem não trabalha tem valor,
Um é escravo outro é senhor sendo tudo a mesma vontade,
Mas porquê esta desigualdade, eu pergunto a qualquer actor?
(…)
Lá por ter muita valia tem que a existência acabar
Quando o sangue paralisar e deixa o coração de bater,
E que diferença é que há no morrer, que me saiba explicar.
O rico pra fazer figura depois de morto vai pr’à montra,
Mas tá gozando a mesma conta dos que estão baixo à sepultura,
Isto é uma verdade pura, como a verdade pura é,
(…)
Pr’a todos rompeu a Aurora
O efeito que produz tudo o que é vivo adora
É de todos não se ignora que assim como o respirar
Tudo a sua luz gozar desde o princípio até ao fim
E porque não é tudo assim, como é o sol e o ar?»
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